

Escrever e desenhar são formas de olharmos para as coisas simples, que nos são próximas, mas lançando um novo olhar. Assim, enquanto fazia esses desenhos, lembrei que a comida em casa era quase tudo tirado da terra. As verduras, as batatas doces, a mandioca, o café... Até linguiça era feito em casa. Nada foi mais divertido do que ajudar nessa empreitada que era uma festa. A carne de porco, moída na máquina e temperada com sal, alho, pimenta, entrava numa outra máquina e saía dentro de uma pele bem fina que dava o formato comprido, voltas e mais voltas de tão comprido. Outra coisa muito divertida, que cabia a mim e a minha irmã, era furar com uma agulha essa linguiça, que ia soltando a gordura. Pronta, ficava pendurada em cima do fogão, a gordura pingando pelos furos e caindo no fogo, espalhava um cheirinho gostoso de defumado pela casa. Sempre tinha algum cheiro nos envolvendo. A minha irmã esteve nos Estados Unidos e comentou sobre uma lareira artificial, que aquecia, mas faltava o cheiro da lenha. Lembrei do "Não verás país nenhum" de Inácio de Loyola Brandão, nesse livro as pessoas precisam comprar cheiros.